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Me situo bem lá atrás, iniciando a idílica década de 70 na roça, pelos meus 8, 9 aninhos, numa tarde ensolarada de domingo veraneio.
Os caseiros da Fazenda "Santa Maria" foram levar costura à minha mãe: aquele bando de crianças traquinas se aglomerou.
Aproveitei para estrear meu novo par de chinelinhos havaianas. Subimos ao regato para brincar, pois era estação chuvosa e ele estava volumoso.
Este regato, tão inquebrantável em minha vida, na verdade é um canal acinturando a montanha, que abastecia com água diversas habitações sob seu curso.
Fora construído provavelmente por escravos, a levar água à antiga fabriqueta de farinha de milho na fazenda do Tio Antenor.
Após muita brincadeira morro acima, adentramos o mesmo, onde ele desviava água para a casa do Tio "Lia". Ali se acumulava muita areia ao fundo, e a correnteza era forte.
Numa pisada mais funda, meu chinelinho ficou preso na argila mole debaixo da areia. Entrei em pânico, pois acabara de estreá-lo, estava novinho!
Tinha convicção de que ele havia rodado regato abaixo, e segurando o outro com as mãos, pedi ajuda; campeamos por tudo logo adiante, fuçamos sob as moitinhas que se debruçavam na água, e nada...
Mais uma vez fui ter ao regaço de minha salvadora - a vovó me compreendeu sem xingatório e voltamos as duas à cena da tragédia. Experiente, ela remexeu a areia e arrancou milagrosamente aquela peça valiosa!
Me recordo vivazmente todo o frenesi inicial com a chegada das visitas; o desespero pela perda de um bem quase animista; e no desfecho, a delícia frutuosa; embutidos nesta infanta tarde domingueira.